sábado, 10 de abril de 2010

Acta de Marinatambalo, aliás Analau Yohynkaku

"O que nunca me foi perguntado e que sempre quis dizer é que a política, a militância política e todo o questionamento social é, no fundo, uma poesia, porque ambas, política e poesia, nutrem uma esperança comum de beleza e se alimentam do sonho de uma utopia, que é estética e social." (Ruy Barata, poeta cabano).



Dia 9 de abril do ano de 2010, calendário gregoriano, depois da sagrada sesta em rede de sonhos da Terra sem males; pelas três e tanto da tarde em antigas terras da extinta fazenda chamada de Val de Cães, que foi engenho dos frades das Mercês movido a ladainhas e braço de preto escravo, hoje bairro do aeroporto internacional de Belém d'Amazônia, digo do grão Pará; o amigo do Saber professor Sergio Nunes se pôs a caminho em sua carruagem mecânica azulmarinho, marca Fiat modelo Palio; puxada a cavalos-motor em busca do caboco pensador que vos fala, escondido na maloca sua, Rua Benfica que fica bem na esquina da Cafezal e vai terminar na da Marinha, beira do igarapé São Joaquim, dito "Parque Ecológico de Belém" (antes fosse, como diria mea avó Sophia, na verdade tia, antiga moradora da filosofia do sol e da chuva, posseira da história na vila de Ponta de Pedras, ilha do Marajó...), bairro da Marambaia, conjunto habitacional presidente Médici... popularizado Medice 2, conforme a sábia antropofagia brasílica que desinventa impérios tal qual o rio das amazonas faz e desfaz ilhas no curso e recurso da maré.


Lembrando ao leitor do blog que a aventura começa no coração do navio: vírgula, na semente da árvore de madeira de lei e dá na quilha, leme, mastro et cetera e tal da nau... (dizia o cego a seu filho na canção de Milton Nascimento das Gerais: a bença Guimarães Rosa! Este um reinventor de aves-palavras e veredas, mano meo sacaca de Salvaterra-PA confundiu (por obra e graça do caruana da intuição dos anzóis pereira) com o romancista Dalcidio Jurandir e o ato falho quebrou o galho da míngua de inventividade da academia do peixe frito um incrível "Dalcídio Guimarães" capaz de fazer de Minas e Pará terrório literário único... Façanha que eu não consegui jamais na escritura romanesca panema, (diz-que) "Tijuco", "Tipacoema", "Este rio", "Vilarana" e outras pavulagens paridas da solidãos das ilhas e da insônia, que morreram na beira da praia órfãos de pai e mãe...


Hoje em dia a cidade morena é moderna à beça, todavia urge inventar um passado pré-amazônico pra ela (diverso da belle époque do Paris n'América) antes que Inez seja morta pela segunda ou terceira vez além mares e a inesperada idéia iberiana mergulhe para sempre ao abismo donde, em Brasília, aflorou um dia ao cair do sol, que nem no Araquiçaua procurado na boca do rio Amazonas pelo Bom Selvagem tupinambá.


Antes era estória pura, depois veio a história, pela fé da mucura (com todos efes e erres da historiografia a reboque). Quer dizer, o eterno retorno do Mito da criação e recriação sucessivas... Do biguebangue da física mater ou fiat lux (fía-te na luz) chegamos (sem crer nem saber) ao mito da primeira noite do mundo: travessia da natureza para o mundo grande da cultura nas terrras baixas do neotrópico. Ou o poder mágico da Cobragrande. Trans-formação da sucuriju verdadeira [Eunectes murinus] em figura imaginária da fabulosa cobra mãe da humanidade amazônica ...


Matéria orgânica transformada em espiritualidades sublimes, segundo o padre Pierre Chardin. Obrigado camaradas Marx e Engels. Não acredita? Não tem problema: eu tinha um tio que era doutor e outro semi-analfabeto que não acreditava que o homem foi à Lua: apesar disso eles se deram muito bem entre eles, eu acho. Fé de mais ou fé de menos, contanto que se não perca a razão...


Verdade ou mentira a viagem secreta de Duarte Pacheco Pereira (1498) ao "grande mar" [Grão Pará] das inventadas mulheres guerreiras de mama amputada na Capadócia e exiladas no país das ditas cujas [Amazônia] preparou o parto do gigante Brasil. Mas foi o navegador espanhol Vicente Pinzón quem meteu a primeira pisada na terra dos Tapuias, ilha de Marinatambalo (aliás, ilha grande dos aruãs por eles chamada Analau Yohynkaku), Marajó ou ilha grande dos Nheengaíbas chamada pelo inimigo hereditário tupi... Ilha grande de Joannes dos barões assinalados (deviam dizer dos joanes, Yona melhor dizendo).


Os donos do poder não acham interesse acadêmico na estória geral dos cabocos da Ilha grande das amazonas amazônicas e os fiéis servidores dos donos não confiam um grão de razão àquilo que lhes parece demasiada suposição do caboco "estoriador".. Isto não é meu problema: mas sim um grande problema de falta de inclusão social da "criaturada grande" na História.



toda viagem é filosofia da linguagem: dialética do tempo e espaço


O professor de filosofia, doutor em Giambattista Vico da federal (universidade) do Pará, paresque tomou curso da futura avenida (segundo notícias do palácio dos Despanhos, acho) Dalcídio Jurandir como recurso de saída pela via metrópole rumo à Julio Cesar (este não foi imperador de Roma, mas inventor da digiribilidade dos balões em Paris, natural do Acará cá na terra dos cabanos, Ribeiro de Souza era, pois, ribeirinho desde menino mas porém sonhava "andar" pelo ar desde quando observou o vôo dos pássaros...). Curso e recurso. Fluxo e refluxo. Estamos, pois, a viajar no mundo encantado dos cabocos na paisagem cultural das regiões amazônicas, uma beleza da natureza sublimada pela cultura!


E vinha era chuva! No cruzamento da Julio Cesar com a Pedro Alvares Cabral o professor viu elevar-se o orgulho da engenharia urbana no viaduto em construção que, por decisão da câmara municipal, deverá relembrar aos cidadãos do trânsito da cidade o pioneiro Daniel Berg, devoto do divino Espírito Santo, operário soldador, mecânico, imigrante sueco e missionario fundador da Assembléia da Deus abaixo do equador [ultra aequinoxialem non peccavit]. Aí o professor tocou telefone pra falar com o caboco a saber que rumo devia tomar para chegar ao destino do dito cujo.


Agora o pensamento 'avoa' e vai procurar pelo começo da estória geral até chegar na inclusão social dos cabocos -- "criaturada grande de Dalcídio" , projeto Nossa Várzea, Plano Marajó, programa territórios da cidadania -- hoje em dia caindo fora da terceira margem da história... Esta é a senha da viagem filosófica apesar da gula e da fome de uns e de outros: quem já mamou demais e quem ainda tá chupando dedo... Foi assim talvez com os filhos da loba romana a peleja que sucedeu no campo da lenda de Rômulo e Remo em diante até invenção desta nossa Amazônia cantada em prosa e verso em busca do El-Dorado ou o paraíso selvagem na terra dos Tapuias.


Saibam todos e todas 'urbi et orbi" [da Cidade do Pará para o mundo] que eu não me chamo Raimundo, mas porém tenho remo e rumo... O diabo é o peso a ver como dizer isto aos outros: o professor pode encontrar a solução que Drummond procurava; agora ele está na chuva pra se molhar... labirinto do tempo e espaço amazônico do vasto mundo iberiano...


O telefone leva a voz e a internet a garrafa de náufrago do caboco mateiro junto a satélites geoestacionários e volta a terra junto ao professor, mais depressa do que o Diabo pisca um olho... Estamos em apuros, ehvem chuva! Chove nos campos de Cachoeira e Dalcídio Jurandir já morreu (corre o pranto do poeta Carlos Drummond de Andrade misturado a lágrimas de Fernando Pessoa por todos os nautas da via nesta imensa loucura que foi e será sempre o descobrimento do mundo).


um certo Vico achado nas ilhas entre destroços da civilização


Os cabocos conhecemos este cara medieval e moderno ao mesmo tempo, de cor e salteado, sem nunca saber quem ele foi ou deixou de ser. Diacho! Uma coisa estúrdia no fim do mundo... Na ciência filosófica Giambattista Vico (1668 – 1744), misturou história e mito como ciência fundadora de todo conhecimento. Diz-que a estética é seu cavalo-motor que nem o Palio azul marinho do professor Nunes a caminho da Universidade com o caboco a bordo.


A Ciência Nova viconiana preconiza o fato ou o feito como verdade e não o pensamento ou o Cogito cartesiano; o engenho e não o método. Há que considere que Vico pode ser considerado como criador da Pedagogia Estética tendo a imaginação e a memória na qualidade de forças vivas, criadoras e sintetizadoras da historicidade das tradições e dos mitos reveladores da história dos povos, do pensamento, da cultura, das instituições e da Política.


Vico caçoa do antropocentrismo e rompe com as cercaduras do racionalismo opressivo da criatividade , da imaginação, inventividade e engenhosidade. Sua história e filosofia segundo a tese do corso e ricorso é vista por alguns como oposta ao darwinismo e ao materialismo histórico-dialético. Mas será isto verdadeiro ou uma mistificação? Sabemos que Jesus de Nazaré e Francisco de Assis foram comunistas avant la lettre, mas a cristandade pós-Nicéia deu volta de 180 graus na doutrina do mestre...

Corso e ricorso significa sequência e recorrência, fluxo e refluxo: não contradiz o rio de Heráclito no qual não se mergulha duas vezes, nem invalida o fato de que a história só se repete como farsa. Há aurorsas que ainda não nasceram e a História não é finita. Como também a maré vai e volta mas nunca é como foi um dia que passou embora a natureza continue sendo a mesma, a cultura... quanta diversidade!